A estação chuvosa em Tangará da Serra se estende de outubro a março. O período de estiagem vai de abril a setembro. A distribuição das chuvas obedece uma escala de regularidade histórica. O índice pluviométrico no município, com a ocorrência de desvio-padrão de um ano para outro, se mantém próximo a 2.000 mm anual.
De acordo com o especialista ambiental, agrônomo Décio Siebert, o volume acumulado no período de 1998 a 2018 foi de 1.939,98 mm. Ele lembra que o maior índice de precipitação foi registrado no período de 2001/2002 - 2.356,90 mm. Já o menor volume acumulado de chuvas – 1.523,80 mm - foi registrado em 2015/2016, que redundou no colapso do sistema de desabastecimento de água.
Siebert revela ainda que em 2017 choveu 2.220,30mm e em 2018 a precipitação foi de 1.916,90 mm, com um desvio-padrão de 303,4mm entre um ano e outro. A previsão para 2019 não é animadora. Segundo especialistas, o índice de chuvas deve ficar próximo do registrado em 2016.
Forçado pelo Ministério Público, o prefeito Fábio Junqueira desapropriou uma área particular e construiu um novo reservatório com capacidade anunciada de reservação de 1 bilhão de litros de água. A obra seria a cereja do bolo de seu governo. A população teria segurança hídrica pelos próximos dez anos. Os críticos da gestão foram silenciados.
Na manhã desta sexta-feira, o diretor do Samae, Wesley Lopes Torres, chamou a imprensa para confessar aquilo que a população já temia. O racionamento será inevitável. A partir da próxima segunda-feira começa um novo capítulo da novela torneira seca. A prudência recomenda preparar baldes, bacias e caixas para estocar o precioso líquido. O uso da água deve ser parcimonioso, econômico. O volume do reservatório está baixo. Não há previsão de chuva para os próximos dias.
Durante o bate papo com jornalistas, Torres apresentou uma coisa chamada Plano Estratégico de Distribuição Racional de Água Tratada no Período de Seca. A suntuosidade terminológica do plano de racionamento de água é ofuscada pelo emprego indevido do substantivo seca. O correto seria falar em estiagem, que é um fenômeno climático causado pela falta de chuva por um intervalo longo de tempo, ao contrário de seca, que é definitiva, permanente. Não é o caso de Tangará da Serra.
Lopes afirmou ainda que a “estiagem severa que assola a região e toda o Centro Oeste do país tornou a medida inevitável”. Não é verdade. Na última terça-feira (10), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta de onda de calor com grau de severidade de grande perigo para Cuiabá e mais 27 cidades de Mato Grosso. Tangará da Serra não figura entre as cidades que podem sofrer com severidade do clima.
Adiante, o diretor do Samae justifica o racionamento:
“Nosso grande problema á a falta de chuvas, e não há previsão para que elas aconteçam. Então, o racionamento é o que restou para enfrentarmos este período e evitar o desabastecimento”.
Isso explica porque alguns bairros recebem água com coloração de barro
Wesley informou ainda que haverá redução no volume de água tratada. Claro, o reservatório já atingiu o nível crítico. Segundo um técnico do Samae, as bombas da ETA já estariam captando água do volume morto. “Isso explica porque alguns bairros recebem água com coloração de barro”, disse a fonte.
O diretor do Samae, Wesley Torres, além de anunciar o racionamento no abastecimento, reiterou pedido para que a população use com racionalidade a água. E mais: pediu para a população usar o Whatsapp e denunciar quem lava calçada, carro ou molha gramado com a escassa água da autarquia. Em 2017, até casas de autoridades foram fotografadas e expostas em redes sociais. Será que teremos um repeteco da história?