EDÉSIO ADORNO
A demissão do presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), general João Carlos Jesus Corrêa, teria sido articulada pelo secretário especial de Assuntos Fundiários, Nabhan Garcia. Ele pretende indicar um aliado para a presidência da autarquia e exercer influência sobre o Ministério da Agricultura, atualmente sob o comando de Tereza Cristina. A movimentação de Nabhan despertou a ira da ala militar do governo e gerou uma crise no Planalto.
Jesus Corrêa caiu atirando.
“Fui uma pedra no sapato por contrariar interesses e até mesmo por atacar verdadeiras organizações criminosas”. O general disse ter levado um grupo qualificado para sua equipe “para uma tarefa de saneamento de um órgão que era um esgoto”.
De acordo com Jesus Corrêa “as 30 superintendências do Incra onde há, em algumas delas, verdadeiras organizações criminosas instaladas”. O general citou Rondônia e Mato Grosso como exemplos de irregularidades.
As atitudes sorrateiras de Nabhan teriam incomodado o presidente Bolsonaro. O núcleo duro do governo reforçou o movimento que pretende impedir Nabhan de interferir no Incra. A atuação do presidente licenciado da UDR tem causado incômodo entre os militares e a equipe da Agricultura.
O coronel Marcos Antonio Santos, que fazia parte da equipe de Corrêa, afirmou que “existem várias facções incrustadas no Incra, em uma ou mais situações delituosas”.
De acordo com Ele, mais de 50 processos estão em andamento contra várias dessas facções “apurando casos de corrupção, desvios, aquisições fraudulentas, distribuição de bens sem lastro nas superintendências regionais do Incra.”
Apadrinhamento político
Conforme o coronel, a direção do Incra em Brasília não teve autonomia nem interferência na indicação das superintendências nos Estados. “Foram todas ocupadas por indicações políticas”, disse ele.
Se todas as superintendências nos estados foram ocupadas por indicação política, resta claro que o deputado Nelson Barbudo (PSL), que é ligado a Nabhan Garcia, teria terceirizado para alguém de sua confiança a indicação do petista Claudinei Chalito da Silva para a presidência do Incra/MT ou foi vítima de uma bolada nas costas. A canelada, segundo uma fonte do site, teria sido articulada pelo pai de um assessor parlamentar com membros da bancada do Pará e do Amapá. Barbudo foi o último a saber da nomeação de Chalita. Não teria participado e não teve nem conhecimento das movimentações de bastidores. Quando soube da estrepolia, reagiu e conseguiu derrubar o petista do Incra/MT.
Jesus Corrêa destacou que dentre as 30 superintendências nos estados, em algumas delas estariam incrustadas verdadeiras organizações criminosas. O general citou especificamente Mato Grosso, Rondônia e o Pará, onde, segundo ele, existem organizações criminosas instaladas.
O coronel Marco Antonio dos Santos falou em interesses de pessoas ou grupos “não exatamente republicanos” em superintendências do instituto. Questionado se Nabhan estaria nesse grupo, o coronel respondeu: “Pela lógica, sim”.
O superintendente do Incra em Mato Grosso, Ivanildo Teixeira, foi uma indicação pessoal do deputado Nelson Barbudo, que é ligado a Nabhan Garcia.
Teixeira é parente de um renomado advogado da família de Rafael Dal Bo, que é o chefe de gabinete do de Barbudo e tem interesse em demandas junto ao Incra.
A revelação do general Corrêa deixou o parlamentar e seu assessor Rafael em situação constrangera, além de colocar Ivanildo Teixeira na corda bamba. A denúncia de que existem organizações criminosas instaladas no Incra de Mato Grosso é de enorme gravidade. O superintende do órgão tem três alternativas: pedir exoneração do cargo, interpelar judicialmente o general Jesus Corrêa ou se calar e aceitar passivamente a acusação. O federal Nelson Barbudo, que foi eleito com um forte discurso de combate a corrupção, deve rechaçar com veemência as acusações proferidas pelo general Correa.
O militar não se limitou a dizer que o Incra/MT era ou foi comandado pelo crime organizado. Ele afirmou que existem organizações criminosas instaladas na superintendência da autarquia federal em Mato Grosso.
Nabhan desagradou a ala militar do governo, incomoda a ministra da Agricultura e preocupa o presidente Bolsonaro. A estratégia para isolar o líder ruralista já foi delineada.
O novo presidente do Incra deve ser alguém sem vínculo político com Nabhan. O ex-deputado Valdir Colatto (MDB) é o nome mais cotado para assumir o cargo. Ele tem o apoio da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). (Com conteúdo do Estado de S Paulo)