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POLÍTICA Sábado, 25 de Abril de 2020, 20:58 - A | A

25 de Abril de 2020, 20h:58 - A | A

POLÍTICA / FOGO NO CABARÉ

Guerra entre Bolsonaro e Moro está só começando

Ricardo Kotscho
UOL Notícias



Que pandemia de coronavírus, que nada, Jair Bolsonaro e Sergio Moro só estão de olho em 2022.  

Depois de ler toda a repercussão do entrevero entre os dois na sexta-feira, se ambos têm razão no que falaram um do outro, a guerra está só começando.  

Aquela história de combater a corrupção e acabar com a velha política, liberais na economia e conservadores nos costumes, era tudo cascata de campanha eleitoral, como eles demonstraram ontem.  

O que interessa aos dois é só o poder, mais nada. Não encontrei em tudo o que li nenhuma preocupação dos dois patriotas com a pandemia e o desemprego que grassam no país, com a vida dos brasileiros, com o dia de amanhã.  

Nas redes sociais, bolsonaristas e moristas agora estão se pegando a tapas para se acusar de traidores uns aos outros, jogando bosta no ventilador.  

Enquanto a briga era contra os vermelhos do PT e a mídia comunista, estavam todos juntos para detonar os inimigos da pátria, da família e das "pessoas de bem".  

Moro atirou primeiro e acertou o coração do bolsonarismo, que promete vingança.  

As alas mais fiéis, chamadas de "ideológicas", em oposição à ala militar, que transformou o Palácio do Planalto num quartel de generais, bolsonaristas convocaram nova manifestação para amanhã, chamada de "Marcha para Brasília", em que pretendem acampar na frente do Congresso Nacional para pedir a saída de Rodrigo Maia da presidência da Câmara.

Segundo li no Globo, os organizadores estão convocando militares da reserva e mulheres de militares da ativa de baixa patente, os eleitores mais fiéis que o presidente defendia quando era deputado.  

Pretendem ficar ali uma semana para defender Bolsonaro e atacar os inimigos, que não são mais os vermelhos, mas o ex-ministro Sergio Moro e Rodrigo Maia, que tem 24 pedidos de impeachment na gaveta.  

Moro que se cuide: além dos seus seguidores fanáticos, a tropa de choque do bolsonarismo agora contará com dois aliados da família na Polícia Federal e no Ministério da Justiça para atazanar a vida do ex-aliado que ajudou a eleger o capitão.  

Para a Polícia Federal, já foi nomeado o delegado Alexandre Ramagem, cupincha de Carlos Bolsonaro, o 02, que comanda o "gabinete do ódio" no Palácio do Planalto.  

O favorito para ocupar o lugar de Moro no Ministério da Justiça é o policial militar Jorge Oliveira, atual secretário-geral da presidência, uma espécie de agregado da família há muitos anos. Com esse aparelhamento, Bolsonaro quer se proteger de todas as investigações em curso sobre a família e os seu apoiadores no empresariado e agora também do Centrão, e preparar munição contra Moro, Maia, o STF, e quem mais aparecer pela frente.  

Moro agora está sem foro privilegiado, sem emprego e sem a pensão para a família que pediu a Bolsonaro, quando foi convidado para o Ministério da Justiça.  

O ex-juiz conta ainda com amplo apoio popular dos seus tempos de "herói nacional" da Lava Jato, e com a Globo, para divulgar todas as provas que guardou contra Bolsonaro nos seus 16 meses de convívio no governo.  

Os discursos de Bolsonaro e Moro, que deram início a essa guerra pelo poder, deixaram muitos fios desencampados, que o ministro Celso de Mello, decano do STF, vai ter que apurar a partir da próxima semana.  

Não vai ser fácil. Para se defender, os dois acabaram se auto delatando numa série de ilícitos que botaram fogo no cabaré bolsonarista, um caso inédito de governo que se implodiu sem a participação de inimigos externos, reais ou imaginários.  

O ex-presidente Lula, ainda o principal líder da oposição, só se manifestou até agora numa entrevista à agência espanhola EFE, para criticar o discurso antipopular e com viés fascista que defende a volta da ditadura militar.  

"Quando se nega a política, o que surge depois é bem pior do que a política. Foi assim que nasceu Hitler, foi assim que nasceu Mussolini, é assim que nascem os ditadores, com a negação da política, porque não existe saída melhor para o mundo do que a democracia".  

Sim, e daí? Lula agora defende o impeachment de Bolsonaro, depois de muito relutar e de pedir a sua renúncia, mas com esse Congresso, o pior e mais reacionário que já tivemos na história republicana, e o apego de Bolsonaro ao cargo, como isso será possível?  

Escrevi aqui na sexta-feira que o governo Bolsonaro, aquele que foi eleito em 2018, graças à Lava Jato de Moro e o aval de Paulo Guedes, uma facada providencial e a fábrica de fake news, na onda do antipetismo, comandada pelos filhos e empresários amigos, acabou.  

Moro já foi defenestrado, assim como o ministro Mandetta, que comandava a batalha contra a pandemia. Guedes perdeu todo seu poder para os militares comandados pelo general Braga Netto, e Bolsonaro correu para os braços do Centrão de Roberto Jefferson e associados para evitar o impeachment.  

O que sobrou daquele governo? Uma guerra fratricida entre bolsonaristas e moristas, que ninguém sabe como vai acabar.   Estamos muito longe de 2022 e não sabemos nem como vamos chegar ao final do ano.  

Pobre Brasil, pobres de nós, que estamos no mato sem cachorro.  

Vida que segue.  

Ao final do inquérito solicitado pela Procuradoria Geral da República, saberemos quem falou a verdade e quem fez denunciação caluniosa  

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