EDÉSIO ADORNO
Tangará da Serra
O mundo vive a beira de uma síndrome do pânico por causa da pandemia do coronavírus. Nesse ambiente de medo, qualquer óbito que ocorre na rede hospitalar é logo carimbado como suspeito de covid-19. O enfrentamento a doença acentuou a polarização ideológica entre esquerda e direita.
Enquanto os negacionistas, que seguem a orientação do presidente Jair Bolsonaro, criticam o noticiário “exagerado” da imprensa sobre o coronavírus, do lado oposto, os chamados “alarmistas” insistem na defesa quarentena, no fechamento do comércio e na manutenção de isolamento social para conter a disseminação do vírus.
Esse embate está presente nas grandes cidade e até no interior de Mato Grosso. Foi exatamente isso que aconteceu, na manhã deste domingo, em Tangará da Serra. Depois de vários dias internada, a moça Kaciana Fabiana foi à óbito.
A causa da morte da jovem elevou a temperatura nas redes sociais. Katia Pereira não tem dúvida. Segundo ela, sua irmã morreu por complicações no tratamento de dengue.
Amigos e parentes da família também reforçam que a morte de Fabiana nada teria a ver com a covid-19. “Não é suspeita, o exame confirmou dengue”, escreveu Katia, na seção de comentários de uma página no Facebook.
Dengue ou covid-19
A reportagem apurou que nos últimos três meses foram registrados mais de 900 casos de dengue em Tangará da Serra. Nos primeiros meses de 2019, foram notificados pouco mais de 40 ocorrências. A vigilância sanitária e epidemiológica ainda não se manifestou sobre esse brutal aumento na incidência de dengue na cidade.
Serviço de Verificação de Óbito (SVO)
Enquanto a família da jovem que morreu fala que a causa do óbito foi dengue, a coordenadora da Vigilância Sanitária, enfermeira Juliana Herrero, declarou ao site Tangará em Foco que a moça "nunca foi suspeita de dengue”. Herrero acrescentou ainda que foram feitos dois exames e ambos deram negativo para dengue. “Até liguei para o hospital, porque já estávamos acompanhando o caso e não foi falado isso [dengue] em momento algum”.
Uma amiga da falecida, em entrevista ao Tangará em Foco, fez o emprego da metáfora “que nem bola” para exemplificar a via crucis de idas e vinda que Kaciana fez ao hospital sem receber a atenção devida e muito menos o tratamento adequado que seu quadro clinico exigia.
“Ela só não se curou dessa dengue porque estava que nem bola, vai e volta pro hospital, não teve um atendimento que merecia. Aí, quando tava já com rins paralisados, na beira da morte, aí ofereceram uma UTI, antes só mandavam ela para casa”, disse a amiga de Fabiana.
Ora, se a moça “nunca foi suspeita de dengue”, conforme informação de Herrero, não seria prudente seguir o protocolo de atendimento e trata-la como suspeita de covid-19 ou de uma outra enfermidade igual grave? Essa jovem deve ter sido submetida a uma avaliação clínica. A família deve ter acesso ao prontuário médico para ilidir possíveis dúvidas quanto a causa da morte.
O Serviço de Verificação de óbito (SVO) está desativado há bastante tempo. A responsável por esse setor se desligou da secretaria de Saúde e desde então não foi providenciado um substituto.
Atestar causa morte é um ato médico.
Quando o profissional, com base em dados clínicos e epidemiológico, não consegue identificar essa causa, então o SVO tem essa atribuição. Infelizmente, não existe SVO em Tangará da Serra, o que contraria, inclusive, portaria do Ministério da Saúde.
O Código de Vigilância em Saúde de Tangará da Serra (Lei Complementar Nº 180/13) determina que deverá ser emitida Declaração de Óbito (DO) em todos os óbitos, natural ou violento.
O mesmo dispositivo legal preceitua que “a emissão da DO é ato médico, segundo a legislação nacional, que, ocorrida uma morte, o médico tem obrigação legal de constatar e atestar o óbito”.
A lei em referência determina ainda que “todos os óbitos de mulheres em idade fértil de 10 a 49 anos deveram ser investigados e concluídos no prazo de 120 dias”.
Redação idêntica tem o artigo 85, da lei 180, que diz: “os óbitos por causa desconhecida ou indeterminada deverá ser investigados e concluídos no prazo de 120 dias”.
Em não tendo sido vítima do mosquito Aedes aegypti, qual terá sido a efetiva causa da morte de Kaciana Fabiana? Juliana Herrero descarta que o óbito da moça tenha dengue como causa.
A verdade deve ser revelada apenas com o resultado de exames laboratoriais.
Até lá, esse infortúnio vai continuar rendendo debates, comentários suscitando suspeitas nas redes sociais.
Nossos sentimentos de pesar a família enlutada. Deus vai confortar o coração de todos.
sidney 19/04/2020
só tenho uma coisa a dizer isso é falta de responsabilidade pelo muniçipio.porque vc vai lá na quela upa pra ser atendido ele mandam dar um soro com Buscopan e libera pra vir embora pra casa mas não pedem nem tipo de exame..aí quando acontece isso de uma pessoa vir a faleser..fica querendo tapar o sol com a peneira..bando de urubu..irresponsável..depois querem dar uma de coitadinho...e com isso que sofre é só a família que perde.um entiquerido..está na hora desse pessoal responsável pela saúde pública tomarem vergonha na cara e dar a atenção devida aos pacientes.e parar de imrrolacao..
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